Tem muito estrangeiro que leva uma surpresa quando vai ao cinema e descobre que todos os filmes estão dublados em castelhano. Os espanhóis estão tão acostumados que encaram como se fosse normal, mas a dublagem de filmes na Europa é uma prática de origem fascista e é comum até hoje apenas nos países em que o fascismo teve predominância: na Itália, na Alemanha e na Espanha.
A desculpa oficial era realmente proteger o idioma, mas na prática a dublagem era usada pelos fascistas como forma de censura política e moral. Franco já tinha proibido qualquer nome próprio que não fosse em castelhano por serem contrários à “Pátria” e fomentarem os sentimentos regionalistas, separatistas e independentistas. Depois veio a aberração da obrigatoriedade da dublagem de filmes, com consequências para a sociedade espanhola sentidas até hoje. Muitos autores acreditam que os espanhóis têm dificuldade para aprender idiomas por isso, por não estarem expostos a outros idiomas.
A história do franquismo é densa e cruel, mas também deixou algumas anedotas. Em relação à dublagem, por exemplo, a censura fascista resolveu mudar clássicos como o filme Casablanca. Na versão em castelhano, Humphrey Bogart não esteve do lado dos Republicanos durante a Guerra Civil Espanhola. E como era tabu para o “Generalíssimo”, os diálogos sobre a República no filme Álamo, de John Wayne, foram completamente alterados para que a palavra não aparecesse. Jack, o Estripador, não matava prostitutas; elas eram bailarinas na versão em castelhano. A dublagem de Mogambo, de John Ford, é a que ilustra melhor o patetismo da época. Para esconder a infidelidade com o personagem de Clark Gable, Grace Kelly virou irmã de seu marido e, portanto, cometia incesto em vez de adultério. Vai entender a moral fascista.
Franco morreu, passaram-se décadas de democracia, mas a prática da dublagem de filmes ficou e não apresenta sinais de abatimento, embora já não mais com o intuito de censura. Quem não quiser se submeter às traduções de qualidade muitas vezes questionável, tem que ficar atento às siglas V.O.. Significa Versão Original (Versión Original). Das quase 500 salas de cinema de Barcelona, apenas 7 exibem filmes em versão original. Saiba quais são e onde estão:
Méliès Cinemes
Onde: Carrer de Villarroel, 102
Renoir Floridablanca
Onde: Calle Floridablanca, 135
Renoir Les Corts
Onde: Calle Eugeni D’ors, 12
Cines Verdi
Onde: Carrer de Torrijos, 14
Filmoteca de Catalunya
Onde: Plaça de Salvador Seguí, 9
Phenomena Experience
Onde: Calle Sant Antoni Maria Claret, 168
Cinemes Girona
Onde: Carrer de Girona, 175